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27 de dezembro de 2013

Makamba, Introdução

Os poemas constantes desde livro nasceram na internet, em
http://makamba.blogs.sapo.pt 1
e www.sanzalangola.com
dezembro de 2005 | janeiro de 2008.
(1) weblog atualmente desativado



Aos meus cambas

Desde que nos achámos nesse quimbo global que é a internet, uma eternidade depois de a História nos ter feito distantes, a memória tem transbordado com as estórias que nos amadureceram próximos, amigos e irmãos.

Deixámos de ser vizinhos, já não moramos na mesma cidade, não palmilhamos os mesmos caminhos debruados a ouro pelas areias do deserto. Por essa razão, a partir de certa altura, passei a oferecer-vos um poema no dia do vosso aniversário. Para além dos ora publicados, outros fazem parte de obras anteriores (“Solaris, o oitavo mar” e “Euracini, de pátrias e maresias”).

Como não podia deixar de ser, todos eles estão imbuídos de uma grande carga emocional que nos faz recuar aos trilhos percorridos em comum.
A saudade imanente, explícita ou não, é apenas uma leitura histórica do passado e a assunção de que somos hoje o espelho de tudo aquilo que nos enformou. Não nos derrotaram aqueles que tentaram mudar-nos a matriz. Vencemos as amarguras e as contrariedades à nossa maneira, não por querermos ser diferentes mas – ao contrário – porque sempre pretendemos ser nós próprios.

Hoje, “quando escuto estas vozes”, sinto orgulho por pertencer à geração do “voo do flamingo” e agradeço-vos por me terem como amigo.

Aos novos leitores

Os poemas que vão ler, como está dito, são dedicados a amigos meus. São fruto de uma vivência, da infância à juventude, precisa e localizada – Porto Alexandre/Tombwa) e Moçamedes/Namibe, lugares de Angola onde a força do querer se elevou mais do que a agrura do clima. Com uma excepção: o poema “quando secar o cacimbo” (publicado em “Euracini, de pátrias e maresias”, mas parte integrante deste conjunto) é dedicado a uma xicoronha da Chibia que conheci “virtualmente” durante esta nova revoada da História. E a Chibia ali tão perto!

Um dos grandes defeitos do Homem é a intransigência perante a diferença ou, dito de outro modo, a intolerância face à não-semelhança. Daí nascem as fobias – as homo, as xeno e as outras – e, mais adiante, as guerras.

O percurso da Humanidade é composto por várias Histórias e a nossa é uma delas, disso não há que abdicar… nem negar.

Essa nossa História já começou a ser contada por outros como eu e se é verdade que não há duas pessoas iguais, logo não haverá dois angolanos iguais, a outra verdade é que vivemos um percurso paralelo e foi a isso que nos agarrámos para nos aproximarmos e sobreviver.
Espero apenas, embora de uma forma não linearmente descritiva – que é o meu modo – colaborar para um melhor entendimento do que foram e do que são os angolanos (de sangue ou de alma) que deambulam pelo mundo, quais canzumbis – a quem aqui chama(ra)m retornados, embora nem todos o sejam porque não é possível retornar a lugar onde nunca se esteve – e que daquele pedaço do mundo trouxeram uma forma própria de ser e estar, nem melhor nem pior, apenas diferente, “sabendo o que fomos e ao que
vamos” e capazes de viver, no longe, “um país reinventado”.

Quando aqui chegámos – os que estão contemplados nas dedicatórias – pertencíamos quase todos às gerações mais novas dos tais retornados. Hoje muitos dos nossos filhos fazem questão de se afirmarem descendentes de angolanos e sonham com a possibilidade de, um dia, poderem conhecer a terra de que seus pais tanto falam. Alguns já cumpriram esse desejo e, desses, muitos por lá ficaram. Outros correm de-cá-para-lá e de-lá-para-cá. Por alguma razão isso acontece.

admário costa lindo
Póvoa de Varzim, 20 de dezembro de 2013.

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